O
conferencista e o teólogo
Outro dia conversando com a minha
cunhada ela disse que sentia necessidade de preparação pessoal para a obra de
Deus, e também havia alguns membros de sua congregação desejando ter um maior
conhecimento da Palavra, mas que era muito difícil adquirir tais conhecimentos.
Conversamos na possibilidade de formatar algo que viesse preencher essa lacuna,
no entanto ela fez uma ressalva, “o problema de quem estuda teologia é que fica
frio ou critico demais e acha defeito em tudo!” tentei explicar que as coisas
não são necessariamente dessa forma, mas logo fomos interrompidos e fiquei
devendo uma explicação sobre a postura do teólogo. Aqui tento quitar essa dívida
refletindo sobre o teólogo ou biblicista num culto rotineiro ante uma enxurrada
de conferencistas advinda dos quatro ventos. Gostaria de salientar que não
pretendo aprofundar no assunto, apenas refletir sobre à pratica comum em alguns
púlpitos.
Conferencista.
Fico curioso quando vejo um cartaz sobre
programação evangélica e antes do nome do preletor as palavras Conf. ou Conferencista
ou ainda Conferencista Internacional, me pergunto o porquê desses títulos que
se tornam quase prenomes, bem, a expectativa criada é que tal preletor seja um exímio
conhecedor da área, pois conferencista é aquele que faz conferencia e
conferencia por sua vez significa reunião de especialista para debater
determinado assunto, portanto o conferencista preletor é O ESPECIALISTA, dentre
os presentes sendo assim o mesmo deve ser habilitado para tal e
consequentemente demonstrar expertise, apesar de certas conferencias não exigir
dos participantes passivos, (ouvintes) qualificações, todos os presentes podem
serem chamados de conferencista.
Quanto ao termo teólogo devemos
atentar para o que diz o professor McGranth “As palavras que terminam com
“logia” são baseadas na palavra grega logos, que significa algo como “conversa”
ou “discussão”. Assim como “biologia” significa “conversa sobre a vida” (da
palavra grega bios,“vida”). “Teologia” é, portanto, “conversa sobre Deus” (da
palavra grega theos , “Deus”). De certa
forma, todos somos teólogos, na medida em todos queremos falar sobre Deus...
teologia...
é algo que traz profundidade e maravilhamento para nossa fé.”[1] O teólogo ou biblicista é alguém que tem a
capacidade de conversar sobre Deus, sabemos e tratamos mais propriamente como
teólogo aquele que estudou ou estuda teologia. Aqui quero tomar como teólogo
alguém que tem um conhecimento básico sobre as doutrina da fé cristã.
Conferência/culto.
A palavra conferencia dificilmente
pode ser sinônimo de culto ou adoração, ainda que forçosamente alguém diga que
é a parte da instrução ou ensino no culto, porem num culto todos os presentes
devem participar de forma ativa[2] (1
Rs 18.36; Jo 4.24; Ex 19.5), numa conferencia a maioria dos participantes são
passivos, o culto é para aperfeiçoamento e edificação do corpo de Cristo (Ef
4.11,12), numa conferencia é para se debater e chegar a uma conclusão sobre o
debate, no culto o conhecimento é compartilhado visando o crescimento e a
salvação, na conferencia o conhecimento é compartilhado visando um acordão ou
pela simples de informações.
Um dos meus colegas de trabalho me
chamou para ouvi uma mensagem da qual ele gostava muito, nessa mensagem o
conferencista leu Gn 37.2 e 39.4 E então passou a “narrar” a historia de José
para isso ele descontruiu e recontou a historia veja!
- Simeão era sanguinário, com ele
era na peixeira.
- Rubem saiu para não participar do
que fariam com José.
Eu particularmente dei graças a
Deus quando o Cd começou a falhar e sair.
No culto de posse dum pastor o
preletor soltou essa
- Moisés criou a trigonometria.
Esse mesmo conferencista conseguiu
fazer do jumentinho de Mt 21 a personagem principal da historia.
Teve um que foi pastor da igreja em
que eu congregava e dizia que, o pentagrama sagrado era o nome de Deus, e os
judeus haviam esquecido. Esse mesmo ainda dizia que depressão era manifestação
do diabo na vida da pessoa.[3]
Alias estava para escrever um livro com “AS PERÓLAS DO MEU PASTOR”, mas
felizmente para nossa congregação ele foi embora.
Um desses, se auto convidou, para
pregar no templo central e conseguiu fazer o filho mais velho do capitulo
quinze do evangelho de Lucas o protagonista da historia, além de dizer que o
homem que deu emprego ao filho pródigo era árabe e só o fez isso para humilhar,
pois sabia que é uma vergonha um judeu trabalhar com porcos. (onde ele
conseguiu essas informações?)
Há ainda tem os conferencistas
escritores, um deles produziu um livro com pelo menos uma falácia por
paragrafo, e o outro fez uma “transliteração” pelo word, resultando em um erros
primário e expondo a sua pseudo erudição.
Bem, não é preciso ter um grande
conhecimento teológico para ver que os conferencistas cometem absurdos com a
palavra de Deus, estando no local e ocasião inadequados os mesmo não fazem jus
ao titulo que querem carregar, e ainda tem espaço, pois vivemos numa época em
que as pessoas vão á igreja e não para o culto, e são analfabetas bíblicas, se
não fossem assim haveria espaço para tais indivíduos?
Quero concluir pedindo a você que pense
em alguma atividade ou área do conhecimento na qual você fez progresso, agora
pergunto, a avaliação feita por você quando alguém esta realizando essa
atividade é da mesma forma que você faria antes de adquirir tais conhecimentos?
Acredito que sua resposta seja um enfático não, com o teólogo não é diferente,
ele vê as coisas do ponto de vista de alguém que sabe das falácias praticadas
em nosso meio. Convém aqui lembrarmos o conselho de Paulo “Continue a lembrar
essas coisas a todos, advertindo-os solenemente diante de Deus, para que não se
envolvam em discussões acerca de palavras; isso não traz proveito, e serve
apenas para perverter os ouvintes. Procure apresentar-se a Deus aprovado, como
obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra
da verdade. Evite as conversas inúteis e
profanas, pois os que se dão a isso prosseguem cada vez mais para a impiedade.”
(2 Tm 2.14-16)[4].
P.S. Talvez o uso de tal titulo se
deva ao fato da ausência de outros que possam vim a satisfazer o ego de tais camaradas.
[1]
McGrath, Alister; Teologia para amadores; tradução de Rachel Vieira Belo de
Azevedo. — São Paulo: Mundo Cristão, 2008. Pag.7,8
[2]
Gonsalves José, Porção dobrada CPAD Rio de Janeiro RJ 2012 Pag. 57
[3]
Pentagrama é um dos símbolos do satanismo enquanto tetragrama é as quatros
letras que representa o nome pelo qual Deus se revelou a Moisés. Ex 3.10-14.
[4]
Nova Versão Internacional
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