domingo, 3 de fevereiro de 2013

O conferencista e o teólogo


O conferencista e o teólogo



Outro dia conversando com a minha cunhada ela disse que sentia necessidade de preparação pessoal para a obra de Deus, e também havia alguns membros de sua congregação desejando ter um maior conhecimento da Palavra, mas que era muito difícil adquirir tais conhecimentos. Conversamos na possibilidade de formatar algo que viesse preencher essa lacuna, no entanto ela fez uma ressalva, “o problema de quem estuda teologia é que fica frio ou critico demais e acha defeito em tudo!” tentei explicar que as coisas não são necessariamente dessa forma, mas logo fomos interrompidos e fiquei devendo uma explicação sobre a postura do teólogo. Aqui tento quitar essa dívida refletindo sobre o teólogo ou biblicista num culto rotineiro ante uma enxurrada de conferencistas advinda dos quatro ventos. Gostaria de salientar que não pretendo aprofundar no assunto, apenas refletir sobre à pratica comum em alguns púlpitos.
Conferencista.
Fico curioso quando vejo um cartaz sobre programação evangélica e antes do nome do preletor as palavras Conf. ou Conferencista ou ainda Conferencista Internacional, me pergunto o porquê desses títulos que se tornam quase prenomes, bem, a expectativa criada é que tal preletor seja um exímio conhecedor da área, pois conferencista é aquele que faz conferencia e conferencia por sua vez significa reunião de especialista para debater determinado assunto, portanto o conferencista preletor é O ESPECIALISTA, dentre os presentes sendo assim o mesmo deve ser habilitado para tal e consequentemente demonstrar expertise, apesar de certas conferencias não exigir dos participantes passivos, (ouvintes) qualificações, todos os presentes podem serem chamados de conferencista.
Quanto ao termo teólogo devemos atentar para o que diz o professor McGranth “As palavras que terminam com “logia” são baseadas na palavra grega logos, que significa algo como “conversa” ou “discussão”. Assim como “biologia” significa “conversa sobre a vida” (da palavra grega bios,“vida”). “Teologia” é, portanto, “conversa sobre Deus” (da palavra grega  theos , “Deus”). De certa forma, todos somos teólogos, na medida em todos queremos falar sobre Deus... teologia... é algo que traz profundidade e maravilhamento para nossa fé.”[1]  O teólogo ou biblicista é alguém que tem a capacidade de conversar sobre Deus, sabemos e tratamos mais propriamente como teólogo aquele que estudou ou estuda teologia. Aqui quero tomar como teólogo alguém que tem um conhecimento básico sobre as doutrina da fé cristã.
Conferência/culto.
A palavra conferencia dificilmente pode ser sinônimo de culto ou adoração, ainda que forçosamente alguém diga que é a parte da instrução ou ensino no culto, porem num culto todos os presentes devem participar de forma ativa[2] (1 Rs 18.36; Jo 4.24; Ex 19.5), numa conferencia a maioria dos participantes são passivos, o culto é para aperfeiçoamento e edificação do corpo de Cristo (Ef 4.11,12), numa conferencia é para se debater e chegar a uma conclusão sobre o debate, no culto o conhecimento é compartilhado visando o crescimento e a salvação, na conferencia o conhecimento é compartilhado visando um acordão ou pela simples de informações.
Um dos meus colegas de trabalho me chamou para ouvi uma mensagem da qual ele gostava muito, nessa mensagem o conferencista leu Gn 37.2 e 39.4 E então passou a “narrar” a historia de José para isso ele descontruiu e recontou a historia veja!
- Simeão era sanguinário, com ele era na peixeira.
- Rubem saiu para não participar do que fariam com José.
Eu particularmente dei graças a Deus quando o Cd começou a falhar e sair.
No culto de posse dum pastor o preletor soltou essa
- Moisés criou a trigonometria.
Esse mesmo conferencista conseguiu fazer do jumentinho de Mt 21 a personagem principal da historia.
Teve um que foi pastor da igreja em que eu congregava e dizia que, o pentagrama sagrado era o nome de Deus, e os judeus haviam esquecido. Esse mesmo ainda dizia que depressão era manifestação do diabo na vida da pessoa.[3] Alias estava para escrever um livro com “AS PERÓLAS DO MEU PASTOR”, mas felizmente para nossa congregação ele foi embora.
Um desses, se auto convidou, para pregar no templo central e conseguiu fazer o filho mais velho do capitulo quinze do evangelho de Lucas o protagonista da historia, além de dizer que o homem que deu emprego ao filho pródigo era árabe e só o fez isso para humilhar, pois sabia que é uma vergonha um judeu trabalhar com porcos. (onde ele conseguiu essas informações?)
Há ainda tem os conferencistas escritores, um deles produziu um livro com pelo menos uma falácia por paragrafo, e o outro fez uma “transliteração” pelo word, resultando em um erros primário e expondo a sua pseudo erudição.
Bem, não é preciso ter um grande conhecimento teológico para ver que os conferencistas cometem absurdos com a palavra de Deus, estando no local e ocasião inadequados os mesmo não fazem jus ao titulo que querem carregar, e ainda tem espaço, pois vivemos numa época em que as pessoas vão á igreja e não para o culto, e são analfabetas bíblicas, se não fossem assim haveria espaço para tais indivíduos?
Quero concluir pedindo a você que pense em alguma atividade ou área do conhecimento na qual você fez progresso, agora pergunto, a avaliação feita por você quando alguém esta realizando essa atividade é da mesma forma que você faria antes de adquirir tais conhecimentos? Acredito que sua resposta seja um enfático não, com o teólogo não é diferente, ele vê as coisas do ponto de vista de alguém que sabe das falácias praticadas em nosso meio. Convém aqui lembrarmos o conselho de Paulo “Continue a lembrar essas coisas a todos, advertindo-os solenemente diante de Deus, para que não se envolvam em discussões acerca de palavras; isso não traz proveito, e serve apenas para perverter os ouvintes. Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade.  Evite as conversas inúteis e profanas, pois os que se dão a isso prosseguem cada vez mais para a impiedade.” (2 Tm 2.14-16)[4].
P.S. Talvez o uso de tal titulo se deva ao fato da ausência de outros que possam vim a satisfazer o ego de tais camaradas.




[1] McGrath, Alister; Teologia para amadores; tradução de Rachel Vieira Belo de Azevedo. — São Paulo: Mundo Cristão, 2008. Pag.7,8
[2] Gonsalves José, Porção dobrada CPAD Rio de Janeiro RJ 2012 Pag. 57
[3] Pentagrama é um dos símbolos do satanismo enquanto tetragrama é as quatros letras que representa o nome pelo qual Deus se revelou a Moisés. Ex 3.10-14.
[4] Nova Versão Internacional